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segunda-feira, 12 de março de 2012

Paixão vira biblioteca

Paixão vira biblioteca
Aos 10 anos de idade Miguel recebeu uma intimação de presente da avó: se não lesse um livro até o domingo que estava por chegar, não sairia para comer pizza com os primos. Como muitos garotos nessa idade, ele pouco ouviu o que a avó disse e não cumpriu a ordem. Resultado: ficou em casa e teve a sorte de uma prima ter trazido um pedacinho frio do jantar, enrolado em um guardanapo. Do alto da capacidade intelectual de um garoto cuja vida não passara de uma década, Miguel concluiu que se deixasse de ler, não poderia sair, não poderia sair para o mundo. Essa história termina, ou melhor, vai começar, no próximo ano, quando o procurador do estado Miguel Josino Neto, 42, pretende inaugurar uma biblioteca aberta ao público formada com o seu acervo pessoal, estimado em 10.500 livros e outros 2 mil no formato digital. A propósito, o livro que recebeu foi Olhai os lírios do campo, de Érico Veríssimo.
A iniciativa partiu de uma experiência pessoal. Quando estudante do curso de direito, o procurador foi beneficiado pelas visitas que fazia às bibliotecas particulares de alguns nomes do direito potiguar - como Múcio Vilar Ribeiro Dantas, Francisco Xavier Pinheiro e Raimundo Nonato Fernandes. Em alguns casos, essas visitas eram realizadas pela falta de condições em adquirir determinadas publicações. ‘‘Livro é uma coisa muito boa. E o saber adquirido com os livros deve ser compartilhado, dividido. Por isso esse sonho da biblioteca’’, anima-se Miguel.
A biblioteca deixou de ser sonho pessoal e se transformou em projeto de toda a família. A esposa de Miguel, Karla Motta, destaca que uma das principais preocupações dela e do marido na criação dos cinco filhos do casal, era passar a paixão pela leitura. ‘‘Graças a Deus todo mundo aqui em casa adora ler. Foi uma preocupação que a gente teve. De passar esse amor pela leitura’’, ressalta. Agora, toda a família está mobilizada pela construção do prédio, cujo terreno, localizado no bairro de Candelária, já foi adquirido. ‘‘Até pela falta de espaço. Eu já estou comprando livros sem a minha esposa saber, porque chega uma hora que fica difícil manter a organização dentro de casa’’, confessa.
O bibliófilo não cansa de adquirir novos exemplares. A compra de livros raros, novos, velhos e até mesmo repetidos, consome de R$ 3 a R$ 4 mil reais de sua renda mensal. Uma das recentes aquisições, trata-se de uma raridade que nem a família do autor possui. Da prática do indivíduo contra o ato administratio ilegal ou injusto, de 1943 e autoria do ex-desembargador Miguel Sebra Fagundes, considerado um dos maiores juristas do estado, foi comprada em um leilão virtual por R$ 800. ‘‘É uma peça rara, que nem a família nem a biblioteca do Tribunal de Justiça possui’’, justifica. ‘‘Quando os familiares souberam que eu tinha adquirido o livro, me ligaram pedindo uma cópia’’, completa. Duas cópias já estão prontas. Uma vai atender o pedido da família e a segunda será doada à biblioteca do TJ.
Na verdade, a doação das informações que possui é outra característica do colecionador que, para cessar o desfalque de seu acervo bibliográfico, prefere comprar outro livro e presentear, a emprestar um de seus exemplares para uma pessoa. ‘‘Mas isso foi só agora. Depois que perdi muita coisa. As pessoas pediam emprestado e não devolviam. Ou eu esquecia de pedir de volta’’, conta. E como vai ser quando todo o acervo for transferido para a biblioteca? A pergunta é prontamente respondida: ‘‘Já estou estudando um sistema de segurança para evitar que eles sejam danificados ou sofram os problemas enfrentados pelas demais bibliotecas’’. Há dois anos, em viagem à capital francesa, Miguel fez questão de presentear a biblioteca nacional com obras dos escritores potigures.

GABRIELA FREIRE
DA EQUIPE DO DIÁRIO DE NATAL

A primeira informação
que você deve procurar
é o endereço da biblioteca.
As outras estão dentro dela



FONTE:
http://diariodenata/ l.dnonline. com.br/site/ materia.php? idsec=2&idmat=165013